VILMA SLOMP

DOR A Dor do Amor

A dor do Amor

   Em 1989 entre setembro e novembro construiu a série A dor do amor mostra o âmago amargo construindo de forma poética comparando ilusões com a natureza à morte em 15 fotografias em cromo 4x5. Vilma Slomp expôs esta obra em São Paulo no Museu Brasileiro de Escultura e na Fundação Cultura de Curitiba em 1993 e 1998.

texto crítico

Holanda em Curitiba - Angélica de Moraes /1993

   As fotografias de Vilma Slomp lembram a arte holandesa do século XV. Na época, alguns artistas, como Willen Kalf, se especializaram na reprodução fidelíssima (hoje se poderia dizer fotográfica ou hiper-realista) de naturezas mortas. Frutas apetitosas, peças de caça, crustáceos e peixes se derramavam em abundâncias das telas, misturadas a requintadas porcelanas e cristais, para celebrar o prazer e a vida. A luz desenhava a capricho de todos os contornos, revelando a transparência dos gomos de uma laranja ou o brilho de uma faca de prata enleada nas curvas de uma casca de maçã. Mas, a um olhar mais atento, essa cena idílica revelava pequenas perversidades. Minúsculos insetos e vermes passeavam sobre as comidas e as toalhas de linho, introduzindo o índice do real nesse cenário paradisíaco e opulento, para lembrar que o fruto sumarento está perto de apodrecer. E que a vida reserva prazeres somados ao inevitável convívio com a dor e a morte.

 

   A série de fotos "Dor", executada por Vilma em estúdio entre setembro e novembro de 1989, coincidiu com momentos pessoais especialmente difíceis da autora. Para exorciza-los, a fotógrafa se armou de sua câmera e, para além da terapia pessoal, construiu um conjunto de trabalhos dotados de valor artístico. A série traça um itinerário a tempo íntimo e universal onde a metáfora das sensações se cristalizam em insetos ou pregos, feixes de fibras (músculos?) retorcidos ou grades de metal que rasgam e prendem.

 

   Como na pintura holandesa antiga a luz é a grande protagonista de tudo, delineando com precisão todas as formas. Uma luz-lucidez que, sob aparência falsamente agradável de uma foto bonita, investiga e cava a ferida. Ainda como os holandeses, a metáfora do real proposta por Vima é construída sobre condições artificiais. Os pintores usavam o ateliê, ela usa o estúdio fotográfico. Os frutos da terra são isolados de seu contexto, longe da paisagem e da natureza. É quando a fotógrafa demonstra pleno domínio técnico para poder obter resultados sensíveis e criativos. Vilma domina as questões que envolvem uma composição equilibrada e uma iluminação expressiva. Esse conjunto de qualidades está traduzido nesta série, onde a autora prova mais uma vez por que é um dos bons talentos da fotografia de arte feita atualmente no Brasil. Mesmo e principalmente quando se deixa levar pelas emoções.

 

Angélica de Moraes /1993

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